Mikkeller It's Alight!
Uma criação da equipa da famosa cervejaria cigana Mikeller que tem a particularidade de utilizar brettanomyces na sua fermentação.
É uma criação da equipa da famosa cervejaria cigana dinamarquesa Mikeller que tem a particularidade de utilizar brettanomyces na sua fermentação.
Confesso que até ao momento em que comecei a escrever este texto estava convencido de que o nome escrito no rótulo era It’s Allright! (que pode traduzir-se por um modesto “Bebe-se!” ou um mais ambicioso “É boa!”). Por vezes o cérebro prega-nos estas partidas e faz-nos ler o que esperamos que lá esteja escrito. Um facto curioso é que esta cerveja adopta o nome Allright nos Estados Unidos. A versão a que tive acesso veio baptizada de It’s Alight!, que em português significa algo como “É uma leve!”. Um simples jogo de palavras, brincando com a semelhança dos dois nomes, mas que em ambos os casos acaba por descrever a cerveja, pois ela é leve e… bebe-se bem.
Esta cerveja foi parcialmente fermentada com brettanomyces. É um género diferente de levedura que é muito resistente, imprevisível e ainda pouco compreendido e estudado. Contribui com sabores bastante diferentes e exóticos.
Com 4.5% de álcool, pode considerar-se uma cerveja “de sessão”, isto é, uma cerveja que não é forte o suficiente para nos ficarmos apenas por uma. Ideal para aqueles serões em que apetece beber um pouco mais sem ultrapassar rapidamente os limites. Tem uma agradável cor dourada e uma espuma que tende a desaparecer quase tão rapidamente quanto se forma. No cheiro nota-se o provável contributo dos brettanomyces, um cheiro habitualmente descrito como funky, termo para o qual não consegui ainda encontrar a tradução ideal. É um cheiro que pode ser considerado estranho e desagradável quando em doses mais elevadas. Neste caso é ligeiro a moderado, mas sobrepõe-se às notas cítricas e de malte que seriam mais óbvias se não tivesse sido utilizada esta levedura. Há também um interessante cheiro azedo, acre, que muitos erradamente associam ao brettanomyces, que à partida não é o responsável principal por essas características.
Ao provar nota-se que existe um certo equilíbrio nos sabores. Há um sabor amargo inicial que se mistura com o sabor do malte e depois termina deixando novamente um sabor ligeiramente azedo. Ocorreu-me o amargo do limão mas sem a componente cítrica. Mas é ligeiro, bastante longe do que é apresentado por outras cervejas. O mesmo pode dizer-se das contribuições do brettanomyces que também são muito mais ligeiras do que se pode encontrar noutras cervejas.
Não tenho dúvidas de que estará longe de ser a melhor ou mais interessante cerveja da Mikkeller, mas acho que pode considerar-se uma cerveja de introdução a um sabor ligeiramente mais exótico e invulgar, apropriada a quem nunca bebeu muito mais do que as cervejas mais sensaboronas da grande indústria. Posso dizer que é uma cerveja fresca, agradável, fácil de beber e menos complexa do que esperava para o estilo onde se pretende enquadrar. Não posso considerá-la excepcional e talvez nem seja muito digna da exclamação do rótulo, mas é definitivamente alright.